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Nesse gesto, traiu-se: já não era a
tempestade lá fora que rugia, mas a que se agigantava dentro de si. Conseguia
ouvir as gotas de água a caírem na pele de Marina com tanta intensidade, que
quase as sentia como se caíssem sobre si. Seguiu com atenção o percurso de um
pingo, descendo o corpo dela, numa carícia molhada. O vento era como um beijo
frio na epiderme da rapariga, fazendo-a arrepiar-se, ao mesmo tempo que
brincava com os seus cabelos. O pijama branco que ela vestia, de tão molhado
que estava, quase se tornava transparente e ele conseguia vislumbrar a roupa
interior. O desejo que o invadia crescia mais depressa do que a própria
intempérie e fazia-o perder o fôlego.
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Era como se o seu corpo fosse uma folha de
papel e o dele, uma chama fulgurante; sentia-se a arder num incêndio
irrefreável. Como um ferro em brasa na sua alma, soube que não iria abdicar
dele: tinha acabado de entregar-lhe o seu coração e a sua alma de livre
vontade.
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O mundo podia desabar lá fora, que era uma
ninharia comparada com aquele instante fantástico. Estavam envoltos por uma
redoma mágica impenetrável, que os isolava de todas as coisas.
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Não importava o que lhe acontecesse a ele,
tinha de garantir que Marina ficaria bem – ela estava acima de tudo, inclusive
dele mesmo. Estava tão bem com ela! Suspirou e sentiu o desassossego
multiplicar-se dentro de si. O que faria quando soubesse a verdade sobre si e
os motivos que o tinham levado ali? Como explicar que tudo tinha mudado quando
a conhecera? Mais importante, como fazê-la acreditar nele e na veracidade dos
seus sentimentos? Aproximava-se o dia em que todas as revelações seriam feitas
e tinha de preparar-se. Ao menos naquele momento ela era sua e tinha-a nos seus
braços. Não pedia mais nada.
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