sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Citação| Excerto "Perdidos"



Página 195
Ele, que era um baú fechado para o mundo, um tesouro de uma riqueza inimaginável, tinha-se aberto só para ela. E como lhe retribuía? Com dúvidas. Quis responder-lhe, mas não sabia o que escrever, por isso optou por desligar o telemóvel – não estava para mais ninguém. Desligou a TV e choramingou na escuridão até adormecer.

Página 197
(…) transformou-se num cubo de gelo, inerte das raízes dos cabelos aos bicos dos pés. Estava a ser parva e a afastar-se, o que era o contrário do que pedira ao rapaz para fazer, mas não tinha coragem de encará-lo. Sentia-se mais perversa do que a Bruxa Malvada dos contos de fadas, prestes a rebentar-lhe a bolha de fantasia.

Página 198
Quando chegou ao seu destino, afundou-se contra a parede e deixou-se escorregar até ao chão. Puxou os joelhos para si, deitou a cabeça e ficou quieta. As lágrimas surgiram involuntariamente e rolaram-lhe pela face. O que era aquilo? Autocomiseração? Não devia ter pena de si. Se tanto um como outro se fartassem dela e a mandassem embora, teriam plena razão. Pressentindo as suas lágrimas, o tempo juntou-se-lhe no baile de tristeza e a chuva começou a cair.

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