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Ele, que era um baú fechado para o mundo,
um tesouro de uma riqueza inimaginável, tinha-se aberto só para ela. E como lhe
retribuía? Com dúvidas. Quis responder-lhe, mas não sabia o que escrever, por
isso optou por desligar o telemóvel – não estava para mais ninguém. Desligou a
TV e choramingou na escuridão até adormecer.
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(…) transformou-se num cubo de gelo, inerte
das raízes dos cabelos aos bicos dos pés. Estava a ser parva e a afastar-se, o
que era o contrário do que pedira ao rapaz para fazer, mas não tinha coragem de
encará-lo. Sentia-se mais perversa do que a Bruxa Malvada dos contos de fadas,
prestes a rebentar-lhe a bolha de fantasia.
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Quando chegou ao seu destino, afundou-se
contra a parede e deixou-se escorregar até ao chão. Puxou os joelhos para si,
deitou a cabeça e ficou quieta. As lágrimas surgiram involuntariamente e
rolaram-lhe pela face. O que era aquilo? Autocomiseração? Não devia ter pena de
si. Se tanto um como outro se fartassem dela e a mandassem embora, teriam plena
razão. Pressentindo as suas lágrimas, o tempo juntou-se-lhe no baile de
tristeza e a chuva começou a cair.
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