sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Citação| Excerto "Perdidos"


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Ao alcançar o portão, foi surpreendida pelo frio. As ruas estavam anormalmente mudas e as fracas luzes provenientes dos candeeiros públicos projetavam sombras medonhas. Algo se mexia, oculto na penumbra. Um animal vadio talvez? Marina tinha a sensação de que estava numa cidade fantasma, como as das histórias das almas penadas, e sentiu um calafrio. Um pressentimento nebuloso apoderou-se dela; sacudiu o corpo para repeli-lo. Fechou o casaco até cima para se proteger do frio e pôs as mãos nos bolsos para mantê-las quentes. Iniciou a marcha.

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Perto de casa, o nevoeiro estreitou-se e transformou-se numa fresca bruma condensada, que quase lhe gelava os ossos. O ar estava demasiado pesado e, esporadicamente, ouvia ruídos que faziam lembrar galhos a partirem-se. Estacou de súbito e pôs-se à escuta, como se estivesse em alerta vermelho, o máximo da escala de perigo. Susteve a respiração e fechou os olhos para se concentrar. O som que distinguiu assemelhava-se ao crepitar de fogo e podia jurar que, por detrás, escutava algo semelhante a gemidos. Descerrou as pálpebras e ordenou ao seu coração palpitante que abrandasse; sentia-o a latejar-lhe nos ouvidos com pequenos estalidos. Deu uma volta sobre si mesma e perscrutou as mechas de nevoeiro em busca da razão para aquele estado de sítio interior.

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As luzes dos candeeiros mais próximos piscaram, como que em resultado de uma falha de corrente, e apagaram-se. Uma gargalhada sinistra ecoou pela noite, fazendo-a recuar com pequenos passos hesitantes, enquanto retirava a bracelete do pulso e a segurava com firmeza na mão. De repente, embateu em qualquer coisa com as costas. Sobressaltada, virou-se rapidamente. De casaco preto a ondular ao sabor do vento, a figura funesta erguia-se de novo diante dela.

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