sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Entrevista| Interview: Vítor Frazão


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Tal como prometido, aqui fica a entrevista a Vítor Frazão, autor de "Crónicas Obscuras: A Vingança do Lobo".

As promised, here's the interview to Vítor Frazão, author of "Crónicas Obscuras: A Vingança do Lobo" ("Obscure Chronicles: The Revenge of the Wolf").

Olá, Vítor. Podemos começar com uma pequena apresentação? Fala-nos de ti.

Muito bem, comecemos pelo tema menos interessante. Simplificando, sou um arqueólogo que gosta de escrever fora da sua área de formação, principalmente narrativas de dark fantasy. Nasci em 1985 e fui criado na vila de São Martinho do Porto, facto que, verdade seja dita, pouco ou nada diz sobre os “comos” e “porquês” presentes na minha escrita. Pensando bem, a apresentação correcta seria: alguém que ainda tem muito que aprender sobre a arte de escrever e, por melhor que se torne, espera continuar a fazê-lo até morrer.

Quando começaste a escrever e o que te levou a decidires-te por isso?

Ora aí está uma pergunta muito mais complexa do que parece à primeira vista… Escrevi muitos posts (ainda por publicar) sobre o tema, porém tentarei transmitir a versão resumida. Infelizmente, não sou daqueles escritores que parecem ter nascido com uma caneta nas mãos (pelo menos, é essa a ideia que eles parecem querer transmitir ao apregoar a sua precocidade); o meu processo foi um pouco mais vulgar. Como todas as crianças, tinha o hábito de criar histórias, sendo algo que me dava e dá muito prazer. Durante a minha pré-adolescência e adolescência, levei a cabo as minhas primeiras tentativas de organizar essas histórias num texto coerente, algumas tiveram um sucesso relativo, outras nem por isso, mas todas foram degraus importantes na minha evolução, por mais embaraçoso que seja relê-las. “Crónicas Obscuras”, e com elas trabalhos mais maduros, só surgiram quando acabei a licenciatura, após uns anos de auto-exílio do mundo da escrita, provocado pela leitura de uma obra de Lian Hearn (novamente, batemos num ponto que daria pano para mangas). Na altura regressei, porque já não aguentava mais silenciar as histórias que continuavam a crescer dentro de mim. É isso que me leva a escrever, um desejo incontrolável de me exprimir e de um dia conseguir sobreviver da minha escrita, para que me possa dedicar exclusivamente a ela.

Fala-nos da “Vingança do Lobo”. Como escolheste a temática abordada?

Para responder a essa pergunta, primeiro precisaria de definir a temática. “A Vingança do Lobo” é sobre como a vingança de um indivíduo pode afectar a vida de muitos. Contudo, creio que te referes ao género em que a obra se insere, a dark fantasy. Sempre adorei mitos e lendas, assim como confesso ter um fraquinho por criaturas mitológicas, particularmente os monstros. Quando comecei a levar a escrita mais a sério, optar por essa temática foi algo natural. Se pretendo mudar de género literário? Não num futuro próximo, especialmente porque dark fantasy, no modo como as “Crónicas Obscuras” estão programadas, me permite tocar “ao de leve” nos restantes géneros.

A tua história passa-se em Nova Iorque. O que te levou a escolher este cenário?

Uma das perguntas mais frequente, senão mesmo a mais frequente. Nova York é a capital do mundo, a metrópole por excelência, um terreno que já foi usado em centenas de filmes, livros e séries. Recebeu tudo e todos, desde invasões extraterrestres, a comédias românticas, passando por mutantes e mulheres pseudo-modernas com a libido aos saltos. Como resultado, acaba por nos ser familiar, mesmo que nunca lá tenhamos ido, sendo esse reconhecimento automático que pretendi utilizar no primeiro livro de “Crónicas Obscuras”. O mais incrível ao lidar com a Grande Maçã é que, apesar da sua “rodagem”, ela continua a ser a cidade virgem de centenas de histórias por contar.

As “Crónicas Obscuras” são uma série, uma colectânea… Podes explicar-nos?

Normalmente, prefiro referir-me a “Crónicas Obscuras” como uma colecção ou colectânea, uma vez que “série” implica uma organização sequencial (com prequelas ou sequelas) na qual todas as obras estão directamente relacionadas entre si, o que não é o caso. “A Vingança do Lobo” tem sequelas, histórias que lhe sucedem cronologicamente e nas quais aparecem várias das suas personagens, mesmo que as narrativas sejam construídas de modo a não ser absolutamente necessário ler as anteriores para se entender ou apreciar. Todavia, o universo de “Crónicas Obscuras” possui outras histórias completamente separadas de “A Vingança do Lobo”, tanto na forma de livros, em estado embrionário, como na de contos escritos, alguns deles já disponíveis para o público. “Crónicas Obscuras” é um universo literário, uma tela na qual pretendo pintar um conjunto de obras heterogéneas em temas e localizações. A ideia base por trás de “Crónicas Obscuras” consistiu em trazer as criaturas mitológicas para uma realidade próxima da nossa, desenvolvendo através delas enredos com interesse intrínseco, ou seja, cujo valor fosse além da mera presença do sobrenatural. Estas narrativas, não têm lugar numa realidade paralela ou planeta distante, mas no nosso próprio mundo, os seus palcos são as sombras das nossas cidades e campos. Os seus protagonistas? Variam de história para história, incluindo-se em três categorias principais: Ocultos (nome colectivo dado a espécies, raças e criaturas com características sobrenaturais); Obliteradores (humanos que se dedicam ao extermínio dos Ocultos) e, por fim, humanos vulgares (gente como nós que vivem as suas vidinhas sem saberem deste conflito, condição que os Obliteradores e o Ocultos, individualmente, se esforçam para manter). Em suma, “Crónicas Obscuras – A Vingança do Lobo” é o primeiro livro daquilo que espero vir a ser uma extensa colecção de dark fantasy.

Sei que o próximo volume já está escrito. O que falta para que “veja a luz do dia”?

Uma editora. Mesmo tendo em conta algumas revisões posteriores, “O Pergaminho de Fenris” - a sequela de “A Vingança do Lobo” - foi concluída há dois anos, e “Cicatrizes” desde Fevereiro (embora não me importe de deixar esta última a “marinar” mais algum tempo, antes da revisão final). Na verdade, já estou a trabalhar no 3º livro desde “A Vingança do Lobo”. Todavia, enquanto não arranjar uma editora que me permita manter afastado dos erros cometidos no passado, receio que essas obras continuarão dormentes.

Quais as principais dificuldades com que te deparaste na busca de uma editora para a publicação do primeiro volume?

Desconhecimento sobre os protocolos particulares de cada editora para a submissão de obras (informação difícil de encontrar mesmo nos seus sites) e a hesitação patológica das editoras quando se trata de investirem em autores novos. Se o segundo é perfeitamente compreensível (afinal, é um negócio e nem todas as apostas podem ser tomadas de ânimo leve), o primeiro não se justifica. Ignorância acaba por ser o grande obstáculo quando procuramos publicar o primeiro livro, pois somos obrigados a tentar encontrar o caminho às escuras num terreno sobre o qual pouco ou nada sabemos. Além de ouvir muitos “nãos” até ao ambicionado “sim”, cada escritor novato baterá com a cabeça vezes sem conta e será acossado por “lobos” que apenas querem aproveitar-se dele. Admito que cometi a minha cota parte de erros e aprendi com eles. Editoras que tardam a responder ou que não o fazem de todo são algumas das “histórias de horrores” comuns a vários autores, tanto antes como depois de editarem o primeiro livro.

Que conselhos deixarias a quem quer ser escritor?

No que diz respeito a lidarem com editoras: paciência e cautela. Sei que a vontade de publicar é difícil de conter, mas não se deixem seduzir pela primeira editora que vos dê uma oportunidade. Não se atirem de cabeça, ponderem bem os prós e os contra e não tenham medo de dizer não. É fácil cairmos no erro de pensar em cada oportunidade como a última, mas acreditem, haverão outras. Mais vale esperarem. A não ser que o vosso objectivo seja publicar só para dizerem que publicaram, nesse caso força, deixem-se enganar. Já agora, àqueles que querem ser escritores, porque pensam que é um modo fácil de alcançar fama e dinheiro: não sejam parvos! Por cada escritor que ascende ao estrelato, existem centenas que nem conseguem sobreviver daquilo que escrevem, independentemente da qualidade do seu trabalho. No que diz respeito à escrita propriamente dita, há três coisas que acho essenciais: conforto, educação e método. Começo pelo último: método. Na minha opinião, quem quer escrever profissionalmente tem de encarar a escrita como um trabalho e dedicar-lhe o mesmo tempo e esforço que lhe seria exigido em qualquer emprego. Como é óbvio, nem toda a gente funciona bem com esse género de pressão. Alguns autores são famosos pela inconstância da sua produção literária, ora escrevendo uma linha numa semana, ora cinquenta páginas num dia, contudo, a longo prazo, consistência e dedicação compensam. Não quer dizer que todas as horas que colocamos de lado para a escrita sejam passadas a escrever; gastar tempo a planear o enredo ou a pesquisar pode ser igualmente útil. O importante é que no tempo que se investe na escrita se esteja concentrado em exclusivo nela. Educação - nada é mais importante para um escritor do que ler. É através dos livros que somos educados, bebendo do conhecimento dos nossos predecessores, não plagiando, mas estudando as suas técnicas de escrita e histórias para encontrarmos e desenvolveremos as nossas. Embora não se deva desvalorizar a exposição a todo e qualquer formato que possa ser usado para narrar (filmes, séries, peças de teatro, etc), os livros são cruciais para a evolução de um escritor. Nem todos os leitores são escritores, mas quase todos os grandes escritores são ou foram leitores ambiciosos. Por fim, conforto. Escrevam aquilo que vos interessa e com o qual se sentem confortáveis. Façam-no no sítio onde estão mais à-vontade, pois se nos dias em que estão inspirados isso não fará qualquer diferença, nos outros em que a mais pequena coisa se torna motivo para procrastinar, será crucial. Descubram o método que faz a vossa escrita mais eficaz. Alguns escritores funcionam melhor com a técnica de “escrever primeiro e pensar depois” e outros preferem estruturar tudo antes, havendo dezenas de métodos intermédios. O crucial é encontrarem aquilo que é melhor para vocês.

Onde te podemos encontrar? 

A pergunta mais simples de todas. Podem encontrar-me na página de “Crónicas Obscuras” no Facebook (https://www.facebook.com/pages/Cr%C3%B3nicas-Obscuras/284622395814), no blogue “Crónicas Obscuras” (cronicasobscuras.blogspot.com) e no Goodreads (http://www.goodreads.com/book/show/8084233-a-vingan-a-do-lobo). Não se esqueçam de espreitar também os contos “Crónicas Obscuras – Vigília”, no nº 2 da revista Nanozine (http://pt.calameo.com/read/000559822eddfa1602ace) e “Crónicas Obscuras – O Farol, no blogue da colecção (http://cronicasobscuras.blogspot.com/2011/10/300-and-counting-cronicas-obscuras-o.html

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