segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Entrevista| Interview: Milene Emídio

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Diz-me uma coisa filha, acreditas em magia?” - é sob este mote que Milene Emídio apresenta o seu livro “O Vestido”. Publicado pela primeira vez em 2007, o conto apresenta-nos a história de Inês, uma jovem que irá embarcar numa autêntica viagem ao passado. Mas quem se esconde por detrás de “O Vestido”? Conheça a autora que concebeu esta narrativa fantástica, cuja continuação não deve tardar a chegar ao público.

Olá, Milene! Conta-nos a história do livro “O Vestido”. Quando o escreveste?

Foi escrito entre 2002 e 2006, começando por ser um projecto académico e terminando na sua primeira edição, em 2007. Devido a divergências com a editora em questão, revi o conto, corrigi e actualizei e optei por uma publicação print-on-demand. “O Vestido” é, portanto, um pequeno conto paranormal, com muito de mim e que teve a felicidade de conhecer pessoas para além destas paredes.

Porquê um conto paranormal? O que te atrai nesse universo fantástico?

Fantasia sempre foi o meu género de eleição para ler, sempre gostei das possibilidades, da criatividade, do ir mais além. Quando comecei a escrever queria que fosse algo dentro do género que me fazia sentir bem, queria algo verdadeiramente meu e ao mesmo tempo algo que eu gostasse de ler caso não tivesse sido eu a escrever a história. Logo, a decisão só podia ser uma: escrever algo dentro do género fantástico. O subgénero paranormal surgiu com o desenvolver da própria história.

Que feedback tens recebido dos leitores em relação ao teu livro?

Até agora tem sido positivo, no geral. Umas opiniões mais entusiastas que outras, mas no seu total, quem leu gostou, ou pela temática, ou pelas personagens, ou pela narração ou todos os elementos juntos. Foram apontados alguns erros, algumas sugestões (alguns destes aspectos foram tidos em conta aquando a reedição, outros já vieram à posteriori). A única pessoa que até agora apontou não ter gostado (sei apenas pelo Goodreads), atribuiu uma estrela à leitura, mas não teceu qualquer comentário do porquê da nota, se por não gostar de contos, daquele conto especificamente... Sei apenas que não gostou.

Imagina que estás neste momento a promover o teu livro perante uma plateia cheia de gente. O que lhes dirias sobre “O Vestido” para os convencer a ler o teu conto?

Não sei se sou a melhor pessoa para vender o meu próprio produto; em apresentações faço um pequeno resumo, sem incluir spoilers, e tento captar o público através das questões levantadas no próprio conto, as dúvidas de Inês, se a magia é ou não real, se haverá ou não fantasmas. Normalmente este tipo de questões faz, pelo menos, nascer um pontinho de curiosidade que pode, ou não, levar o leitor a querer adquirir a obra e, consequentemente, a lê-la. Mas sou franca ao ponto de os salvaguardar que é apenas um conto, e, como tal, pequeno e de narrativa rápida e limpa.

“O Vestido” já tem quatro aninhos. O que tens feito em termos literários desde então?

Escrevi a continuação que me levou tanto ou mais tempo que o primeiro lolol, mas tem mais páginas, a narrativa é um bocadinho mais pausada (mas não muito) e a própria história é mais complexa. Foi para test reading em Janeiro e agora está a aguardar que eu lhe pegue e lhe dê a limpeza e o brilho finais. Entretanto comecei também um 3º trabalho que não vai ser conto. Tenho feito muita pesquisa, tenho delineado aquilo que quero (mapa, tempo, personagens, enredo, etc) tudo muito por alto. Faltava-me o tempo e a motivação para escrever, agora que tenho tempo de sobra, a ver vamos se a motivação regressa para terminar “O Feitiço da Moura” e dar um começo como deve ser ao projecto que ainda não tem nome.

Uma das queixas que oiço frequentemente da parte de autores portugueses prende-se com a disponibilidade (ou falta dela) das editoras. Achas que, em parte, essa é uma das razões que contribui para a falta de motivação que por vezes atinge jovens escritores como tu mesma?

Boa parte das editoras, as maiores pelo menos, funcionam como empresas que são e, como tal, olham ao lucro imediato ou quase imediato que podem ter com as edições que fazem. Daí a grande aposta em autores estrangeiros, podem sempre publicitar que foi best-seller em N países ou no seu país de origem e esse facto vai levar os leitores a terem boas referências, logo, a comprar. No caso de autores portugueses, podem ocorrer diversos cenários: ou se construiu nome numa altura em que as editoras e o público eram substancialmente menos numerosos, logo os primeiros têm um CV que fala por eles (bom ou mau, deixo a apreciação para a crítica e para os leitores); há aqueles que têm efectivamente editores que apostam neles (podem acreditar verdadeiramente no trabalho do autor, ou podem ter uma margem de lucro satisfatória para se permitirem correr o risco), há aqueles que pelo teor das histórias é venda certa (casos de histórias baseadas em casos televisivos e reality shows), há quem insista até ter uma oportunidade, etc. Ser-se recusado efectivamente quebra a motivação, por mais que uma pessoa afirme "escrevo porque gosto", e é uma afirmação correcta, o facto de se obter recusas por parte de editores faz com que uma pequena peça do puzzle da vida de autor fique em falta e como tal, o trabalho nunca ficará completo. No meu caso concreto, as recusas quebraram um pouco, mas não a totalidade, dado que tive uma resposta positiva, não sabia na altura o que sei agora, mas contou para não desmotivar.

E em relação ao “Feitiço da Moura”? Tendo em conta as “aprendizagens” que mencionaste, tencionas continuar a tentar a tua sorte junto de editoras ou tencionas enveredar novamente pelo Print-on-demand?

“O Feitiço da Moura” vai ser print-on-demand pelo simples facto de ser um conto e ser a continuação do primeiro. Faz sentido a edição ser padronizada. Além de que editar contos em Portugal não é fácil, é um género que, a meu ver, não é muito apreciado e, em alturas de crise, as pessoas não vão dar por um livro de 100 páginas o mesmo que pagam por romances de 200, 300, 600 ou até mesmo 900. O terceiro projecto, esse sim, vai percorrer tudo o que tiver de percorrer.

Para terminar, que balanço fazes da tua carreira enquanto escritora e o que gostarias que o futuro te reservasse?

Não posso chamar carreira ao percurso que tenho tido. É preciso mais que um conto editado, um no forno e o esboço de algo mais para se ser um Autor. Posso dizer que foi um percurso de auto-conhecimento com alegrias e tristezas e muita aprendizagem. Futuro... Espero poder um dia chamar este mesmo percurso de carreira.


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