terça-feira, 15 de julho de 2014

Guest-Post de Olinda Gil




Eu e os ebooks

Não me quero por com conversas do tipo: “ah, e tal, temos de subir a punho” porque sei muito bem que não é assim. Há quem tenha muitos punhos e não chegue a lado nenhum, e quem sem punhos chegue a todo o lado.
Mas uma coisa é certa: não se consegue nada sem tentativa e erro, e as tentativas fazem-se com trabalho.
Comecei nisto da escrita muito cedo, quase sem leituras feitas e pouco treino de mão. Isto de começar cedo é por paixão. Na escrita não se ganha nada com isso. Muita da capacidade de escrita vem da observação do mundo, da aprendizagem. Aos 40 anos o escritor que começou com 15 está no mesmo patamar daquele que começou há 2 ou 3 anos. A única vantagem que o escritor precoce pode ter é em relação ao funcionamento dos bastidores (se tiver sabido manter os olhos abertos).
Tenho muitos textos, mas não gosto de todos da mesma forma, porque reconheço que nem todos têm a mesma qualidade. Há um texto, em “Contos Breves”, “Liberdade de Escrita”, que é dos meus preferidos até hoje. Tinha só 16 anos quando o escrevi, num ímpeto de criatividade, e mantém-se quase sem alterações. Também gostei muito de “Sudoeste” que publiquei agora na Coolbooks, a chancela digital da Porto Editora. Sempre reconheci que aqueles textos poderiam ser publicados, e por isso mesmo trabalhei muito neles. Posso dizer que apostei forte nesse livro. Quando o enviei para várias editoras sabia que uma haveria de dizer que sim: foi a Coolbooks.
Um escritor sabe aquilo que faz, sabe aquilo que tem de bom. Mas, mesmo assim, das coisas mais difíceis é expor o nosso trabalho ao olhar dos outros. Deixar de escrever para a nossa intimidade e passar a escrever para os outros é um passo assustador. Os textos deixaram de ser nossos, vão estar à mercê de muitos olhos diferentes.
Quando expomos um texto mau e alguém nos dá uma crítica negativa, bem fundamentada é fácil encaixar. Afinal não esperávamos grande coisa dali. Aliás, se por outro lado até recebemos um grande elogio àquele texto, estranhamos.
Quanto ao texto bom, regozijamos tanto com a boa crítica, como com a mesquinha, feita propositadamente para nos magoar. Mas o que nos vai dor mesmo é quando um leitor sincero nos vai dizer que não gostou, e do que não gostou. Outra coisa que nos magoa muito é ninguém identificar a mensagem implícita que deixámos num texto (ou julgámos deixar).
Da exposição ao leitor através do livro passamos à exposição pessoal, no momento do lançamento. Eu sei, devíamos estar felizes, orgulhosos, blá, blá, blá, mas na maior pare das vezes sentimo-nos desadequados. “Afinal o que estou a fazer aqui?”. Confesso que, da minha parte, o esforço às vezes é tanto (temos de estar perfeitos, afinal estão todos a olhar para nós) que a seguir me dói a cabeça e os ouvidos.
Contudo, a apresentação do livro é um momento importante, quase como que um ritual que declarasse o livro aberto às leituras. É um momento único em que o autor pode ter contacto directo com os seus leitores. Foi por isso que decidi estar presente na apresentação colectiva da Coolbooks.
O ebook é um produto ainda novo e desconhecido da maior parte dos leitores. Por isso, uma apresentação colectiva foi a melhor forma que a Coolbooks encontrou para dar a conhecer as obras. Sem um livro que as pessoas pudessem folhear e ler no local, restou-nos falar sobre o livro, como faríamos noutra apresentação qualquer, assim como responder a questões.
No final houve uma pequena surpresa. Havia postais com as capas do livro e uma pequena frase sobre cada um, para que os autores pudesse autografar e os leitores pudessem levar para casa, recordar, e quem sabe?! Usar como marcador de livro?

Olinda P. Gil


3 comentários:

  1. Gostei muito deste texto sobre os ebooks e sobre como é escrever.
    Gábi (e cheguei aqui pelo link no blog A Casa do Alfaiate)

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  2. Fico muito feliz por finalmente teres sido publicada pela chancela de uma grande editora, e só tenho pena que, para já, o livro não exista impresso.
    Percebo perfeitamente quando falas do sentimento de ter outros a ler os nossos trabalhos. É tão assustador quanto reconfortante.
    Mas muitas publicações virão ainda, com certeza!

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