Olá! Hoje resolvi partilhar convosco o prólogo do meu livro "Perdidos". Espero que gostem ;-)
«O seu toque era extremamente quente; tanto, que a pele queimava e abria à medida que o dedo dele deslizava. Ela sentia-se como se estivesse a ser rasgada por um ferro em brasa. O ardor escaldante contrastava com a noite fria e húmida, agitada por uma sinfonia de terror: temerosos trovões harmonizavam com os relâmpagos invasores que riscavam o céu, e com a chuva decepante que a chicoteava. Tentou ser forte e não gritar. Contudo, a dor era tão aguda que um grito mortificante acabou por se lhe escapar, cessando apenas quando o atacante parou. Podia jurar que o seu brado tinha ecoado pela cidade inteira. No entanto, nenhuma luz se acendeu em qualquer casa, ninguém veio à porta espreitar o que se passava, ninguém apareceu para salvá-la. Não conseguiu deixar de sentir-se como uma mosca presa numa teia de aranha, à espera do inevitável.
- Pede-me que pare – ordenou-lhe o inimigo.
- Não! Não te vou dar esse gosto – replicou, tentando mostrar-se mais destemida do que era.
A sua resposta apenas enfureceu mais o oponente, que troou em uníssono com a tempestade:
- Então vais sofrer, e muito, até mudares de ideias.
Um golpe brutal abriu-lhe um rasgão desde a zona abaixo do seio direito até quase à anca esquerda. A dor era excruciante, mas o grito morreu-lhe na garganta. Já não lhe restava alento sequer para dar voz ao sofrimento. Deixou cair cabeça para a frente e ficou a ver as gotas de água a caírem-lhe do cabelo. Evitou examinar a barriga. Tinha plena consciência de que se olhasse para baixo e visse o sangue, perderia as últimas energias que lhe restavam… e temia que ainda houvesse muito para aguentar até que lhe fosse aplicado o golpe de misericórdia.
Num momento de escassa lucidez, implorou mentalmente à outra figura ali presente que a ajudasse. Esperou que ele a ouvisse e atendesse às suas súplicas, mas ele limitou-se a balancear no mesmo sítio, agradado e satisfeito com a punição que lhe era aplicada. Tentou censurá-lo por não a tirar dali, mas não conseguiu. Ela tinha-o colocado naquela situação, por isso era mais que justo que ele igualasse a balança: o yin e o yang estavam em jogo para repor o equilíbrio.
Atreveu-se a fitar a poça escarlate que se formava junto aos seus pés, que estavam atados ao poste a que tinha sido amarrada. “Vermelho”, pensou, “cor do amor… mas também da morte”. E como naquele momento um era sinónimo do outro. Arrependia-se do que tinha feito e que a havia conduzido até ali? Talvez mudasse uma coisa ou outra, mas nunca muito, pois estimava todos os bons momentos por que tinham passado.
Um grunhido de ódio fê-la regressar ao presente atroz, demasiado penoso para suportar. O seu maior consolo era que, em breve, tudo terminaria. Não via como poderia salvar-se. Restava-lhe resignar-se à sua sina. Apesar das dores lancinantes, que quase a faziam implorar para que o Ceifeiro não demorasse, tentou endireitar-se, de modo a aguardar o golpe final com a dignidade que lhe restava. Contudo, a coragem abandonou-a perto da hora derradeira e fechou os olhos. Sentiu o poste vibrar e o seu corpo acompanhou a reverberação.»
Eu gostar :P
ResponderEliminarBeijinhos e tem um bom dia!
Olá Rute! Deixei-te um selo aqui http://umabibliotecaemconstrucao.blogspot.pt/2012/12/selo-campanha-de-incentivo-leitura.html
ResponderEliminar=)*
Ainda bem que gostas, Alyra!
ResponderEliminarE obrigado Cláudia ;-)
Curiosa...
ResponderEliminarBom sinal, Olinda, lol ;-)
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