"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce", afirmava Fernando Pessoa na sua "Mensagem". Bem, não nasceu uma obra do meu, dado que sou péssima a desenhar, mas achei engraçado os pormenores que um sonho pode incluir e como pode obrigar o nosso cérebro a trabalhar quando era suposto estarmos a descansar.
Este não é um post literário como os habituais, mas algo que me apeteceu partilhar convoco.
Começo por perguntar: quem se lembra dos seus sonhos? Eu lembro-me relativamente bem dos meus, umas vezes de forma mais detalhada, outras com contornos mais gerais e esbatidos. O de 18 de outubro de 2015, porém, recordo-o com nitidez.
De volta à sala onde tinha aulas de Educação Visual no 7.º ano, mas comigo mais perto da idade atual, ouvi, por entre os guinchos dos meus colegas barulhentos, a professora apresentar o exercício do dia: devíamos observar os arredores e "procurar a poesia na paisagem", que devíamos passar para papel. Principiei a minha busca e, à semelhança de muitos dos meus colegas, comecei de imediato a pensar pintar a árvore isolada visível a partir da janela da sala, que ficava linda beijada pelo por do sol. Contudo, a professora logo nos enxotou da sala, pediu-nos que não fôssemos atrás do óbvio e que procurássemos a resposta noutro local.
Saí da sala e o cenário mudou. De repente dei por mim numa igreja antiga e observei todos os seus pormenores, em particular os arabescos e elementos florais esculpidos nas paredes. Achei-os bonitos, mas redutores; precisava de algo com maior significado, mais "poesia".
Com o simples percorrer de um corredor entrei noutro cenário, desta vez um conjunto de prédios de arquitetura peculiar com retoques de antiguidade. A tristeza marcava este sítio. Abandonado, desolado e pintado em tons de um amarelo enegrecido e sujo como se as trevas lhe tivessem cravado as garras, parecia o resultado de uma guerra há muito lavrada, uma autêntica ruína. O brado da professora de que o tempo estava a esgotar-se fez-se ouvir e comecei a procurar à pressa um pormenor em que pudesse focar-me. E encontrei-o. Por entre os buracos negros que faziam as vezes das várias entradas no edifício, vi uma porta carcomida. Isolei-a, assim como a mancha negra esborratada na parede e, num ápice, as palavras formaram-se na minha mente, determinei o lettering e a sua disposição no desenho: "Na solidão dos negros dias respiro... existo..."
Quando acordei tinha uma vontade imensa de desenhar o que sonhei. Esqueçam lá isso... Os meus dotes de designer são tantos que nem vistos à lupa se encontram. Mesmo assim, achei que seria engraçado registar o sonho para a posteridade e fazer um esboço para mais tarde recordar. Não critiquem, lol! Aqui está:
Definitivamente, os sonhos são uma fonte de inspiração e nos meus encontro-me frequentemente em processo criativo, esteja relacionado com desenhos, histórias, etc.
E vocês, têm sonhos curiosos para partilhar e que vos levam a criar algo?
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