terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Opinião: “As Gémeas de Auschwitz”

 

SINOPSE

“As portas do vagão abriram-se pela primeira vez em muitos dias e a luz do dia brilhou sobre nós. Agarrei bem a mão da minha irmã gémea quando nos empurraram para a plataforma.

- Auschwitz? É Auschwitz? Que sítio é este?

- Estamos na Alemanha - foi a resposta.

Na verdade, estávamos na Polónia, mas os Alemães tinham invadido a Polónia. Era na Polónia alemã que se situavam todos os campos de extermínio. 

Os cães rosnavam e ladravam. As pessoas do vagão começaram a chorar, a berrar, a gritar todas ao mesmo tempo; todos procuravam os seus familiares à medida que eram afastados uns dos outros. Separavam homens de mulheres, filhos de pais.
Um guarda que ia a passar a correr parou bruscamente à nossa frente. Olhou para Miriam e para mim nas nossas roupas a condizer: «Gémeas! Gémeas!», exclamou. Sem dizer uma palavra, agarrou em nós e separou-nos da nossa mãe. Miriam e eu gritámos e chorámos, suplicámos, as nossas vozes perdidas entre o caos, o barulho e o desespero, tentando chegar à nossa mãe, que, por sua vez, tentava seguir-nos, de braços estendidos, com outro guarda a retê-la. 

Miriam e eu tínhamos sido escolhidas. De repente, estávamos sozinhas. Tínhamos apenas dez anos. E nunca mais voltámos a ver nem o nosso pai nem a nossa mãe."


FICHA TÉCNICA

Título: As Gémeas de Auschwitz

Autoras: Eva Mozes Kor e Lisa Rojany Buccieri 

ISBN: 9789898907868

Edição: 09-2019

Editor: Alma dos Livros





OPINIÃO

Terminei “As Gémeas de Auschwitz” em agosto do ano 2020 e gostei bastante, sendo, por isso, um livro cuja leitura recomendo.

Confesso que livros que remetem para o Holocausto me deixam sempre de lágrima no canto do olho e este não foi exceção. Já li várias obras que abordam a perseguição aos judeus, o que se passou nos campos de concentração, as atrocidades que foram cometidas. Sinceramente, toda a situação ainda hoje me parece estranha e acho repreensível que tenham permitido que isto acontecesse. Acreditariam realmente as pessoas numa superioridade ariana, um ideal a que, curiosamente, nem o próprio Hitler correspondia? Mesmo que sim, que direito lhes dava isso a que pusessem e dispusessem da vida dos outros, rebaixando-os e tirando-lhes toda a dignidade e, por fim, a vida? E como puderam os outros calar e consentir durante tanto tempo?

Circulam muitas histórias, algumas que soam até a ridículo e deveras duvidosas, como as supostas ligações de Hitler ao oculto. Já ouvi falar em experiências científicas; no entanto, Eva Mozes Kor expõe neste livro uma realidade de que ainda não tinha ouvido falar em particular e que me deixou arrepiada: experiências clínicas com gémeos. Basicamente, injetavam e infetavam as crianças com tudo e mais alguma coisa e viam como reagiam e se um dos gémeos morresse, matavam o outro. Não bastava tirarem estas crianças aos seus pais, como ainda as sujeitavam a doenças, vírus, bactérias, agressões, mutilações e a uma luta extrema pela sobrevivência?

Foi interessante – e triste - ler o depoimento de Eva Mozes Kor e recomendo que o façam, pois é uma forma de saber um pouco mais sobre este momento tenebroso da História, para que, a partir do passado, se tirem lições para o futuro. Também nos leva a questionarmo-nos sobre tópicos, como a moral e a ética, e deixa-nos um pouco mais humildes quando contrapomos as duas realidades: o então com o agora.