SINOPSE
“As
portas do vagão abriram-se pela primeira vez em muitos dias e a luz do dia
brilhou sobre nós. Agarrei bem a mão da minha irmã gémea quando nos empurraram
para a plataforma.
-
Auschwitz? É Auschwitz? Que sítio é este?
-
Estamos na Alemanha - foi a resposta.
Na
verdade, estávamos na Polónia, mas os Alemães tinham invadido a Polónia. Era na
Polónia alemã que se situavam todos os campos de extermínio.
Os
cães rosnavam e ladravam. As pessoas do vagão começaram a chorar, a berrar, a
gritar todas ao mesmo tempo; todos procuravam os seus familiares à medida que
eram afastados uns dos outros. Separavam homens de mulheres, filhos de pais.
Um guarda que ia a passar a correr parou bruscamente à nossa frente. Olhou para
Miriam e para mim nas nossas roupas a condizer: «Gémeas! Gémeas!», exclamou.
Sem dizer uma palavra, agarrou em nós e separou-nos da nossa mãe. Miriam e eu
gritámos e chorámos, suplicámos, as nossas vozes perdidas entre o caos, o
barulho e o desespero, tentando chegar à nossa mãe, que, por sua vez, tentava
seguir-nos, de braços estendidos, com outro guarda a retê-la.
Miriam e eu tínhamos sido escolhidas. De repente, estávamos sozinhas. Tínhamos apenas dez anos. E nunca mais voltámos a ver nem o nosso pai nem a nossa mãe."
FICHA TÉCNICA
Título: As Gémeas de Auschwitz
Autoras: Eva Mozes Kor e Lisa Rojany Buccieri
ISBN: 9789898907868
Edição: 09-2019
Editor: Alma dos Livros
OPINIÃO
Terminei
“As Gémeas de Auschwitz” em agosto do ano 2020 e gostei bastante, sendo, por
isso, um livro cuja leitura recomendo.
Confesso
que livros que remetem para o Holocausto me deixam sempre de lágrima no canto
do olho e este não foi exceção. Já li várias obras que abordam a perseguição aos
judeus, o que se passou nos campos de concentração, as atrocidades que foram
cometidas. Sinceramente, toda a situação ainda hoje me parece estranha e acho repreensível
que tenham permitido que isto acontecesse. Acreditariam realmente as pessoas numa
superioridade ariana, um ideal a que, curiosamente, nem o próprio Hitler
correspondia? Mesmo que sim, que direito lhes dava isso a que pusessem e
dispusessem da vida dos outros, rebaixando-os e tirando-lhes toda a dignidade
e, por fim, a vida? E como puderam os outros calar e consentir durante tanto
tempo?
Circulam
muitas histórias, algumas que soam até a ridículo e deveras duvidosas, como as
supostas ligações de Hitler ao oculto. Já ouvi falar em experiências
científicas; no entanto, Eva Mozes Kor expõe neste livro uma realidade de
que ainda não tinha ouvido falar em particular e que me deixou arrepiada:
experiências clínicas com gémeos. Basicamente, injetavam e infetavam as
crianças com tudo e mais alguma coisa e viam como reagiam e se um dos gémeos
morresse, matavam o outro. Não bastava tirarem estas crianças aos seus pais,
como ainda as sujeitavam a doenças, vírus, bactérias, agressões, mutilações e a
uma luta extrema pela sobrevivência?
Foi
interessante – e triste - ler o depoimento de Eva Mozes Kor e recomendo
que o façam, pois é uma forma de saber um pouco mais sobre este momento
tenebroso da História, para que, a partir do passado, se tirem lições para o
futuro. Também nos leva a questionarmo-nos sobre tópicos, como a moral e a
ética, e deixa-nos um pouco mais humildes quando contrapomos as duas
realidades: o então com o agora.